Uma das maiores forças de Dona de Mim, novela das sete escrita por Rosane Svartman, é não transformar seus protagonistas em figuras idealizadas. Aqui, os mocinhos não são “100% certinhos” e justamente por isso soam mais humanos, próximos do público e carregados de camadas que ultrapassam os rótulos de heróis e vilões.
Leona (Clara Moneke), por exemplo, é carismática, batalhadora e determinada, mas também toma decisões equivocadas. A trama não passa pano para seus erros, deixando claro quando a personagem ultrapassa limites. Essa honestidade ajuda o público a se conectar ainda mais com a jornada da protagonista, que vive para realizar seus sonhos e proteger Sofia (Elis Cabral).
Sofia, por sua vez, é frequentemente criticada pelo público como mimada e sem limites, mas sua construção é atravessada pela falta da mãe e pela convivência em uma casa dominada por adultos. Essa perspectiva humaniza a personagem, que vai muito além do estereótipo da “criança difícil”.
Triângulos amorosos sem vilões
O mesmo acontece com os irmãos Samuel (Juan Paiva) e Davi (Rafael Vitti). Samuel sempre foi o favorito de Abel (Tony Ramos), enquanto Davi cresceu à sombra desse favoritismo, acumulando mágoas. Apesar de ser visto como imaturo, a novela mostra que parte da revolta de Davi nasce da criação desigual do pai. Adultos, os dois se envolvem em um triângulo amoroso com Leona, e suas escolhas os aproximam tanto da cumplicidade quanto do conflito.
Esse jogo de imperfeições se repete em outros núcleos. Marlon (Humberto Morais), Kami (Giovanna Lancellotti) e Ryan (L7nnon) protagonizam um triângulo amoroso intenso, marcado por dilemas morais. Ryan, ex-presidiário tentando se reinserir na sociedade, reencontra a mãe de seu filho já envolvida com Marlon, policial e seu antigo amigo. A narrativa não aponta lados certos ou errados: cada personagem carrega dores, escolhas difíceis e perspectivas que abrem discussões sobre justiça, recomeços e preconceitos.
Camadas e mais camadas
Filipa (Cláudia Abreu) também ganhou novos contornos ao longo da trama. Inicialmente vista como instável e dramática, sua trajetória revelou o diagnóstico de bipolaridade, trazendo a saúde mental para o centro da história e mostrando os desafios do tratamento.
Ayla (Bel Lima), sempre querida pelo público, também viveu momentos polêmicos ao decidir realizar uma inseminação clandestina sem o consentimento da namorada, Giselle (Luana Tanaka). O conflito gerado revelou fragilidades no relacionamento e trouxe ainda mais camadas à personagem, que agora lida com a inesperada presença de Caco (Pedro Alves), o doador e namorado de Breno (Gabriel Sanches), colega de trabalho de Ayla.
Outros personagens transitam entre mocinhos e vilania, como Nina (Flora Camolese), marcada pela negligência da mãe, Filipa, e Danilo (Rodrigo Simas), motorista ambicioso que caiu nas armações de Jaques (Marcello Novaes). Até mesmo Tânia (Aline Borges), ex-parceira do vilão, ganha nuances ao mostrar as feridas deixadas pelo relacionamento.
Mesmo sendo o grande vilão da novela, Jaques também carrega feridas antigas: desde jovem, foi colocado em segundo plano pelos pais, que sempre preferiram o irmão. O ressentimento o transformou em um homem movido por mágoa e ambição, capaz de cometer crimes imperdoáveis. Já Abel, apesar de ser visto como o “bom pai” e empresário respeitável, também não escapa de falhas: suas escolhas e favoritismos ecoam nos conflitos dos filhos.
Ao colocar em cena personagens cheios de contradições, Dona de Mim foge da fórmula maniqueísta e reforça sua proposta de contar histórias próximas da realidade. Aqui, ninguém é perfeito e é justamente isso que torna a novela tão envolvente.
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